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Que diferença faria?
08:21
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(refrão: versos de João Cabral de Melo Neto)
Na paz de Cristo
eu não sinto abrigo
Nem na paz desse Estado
nem como inquilino
É que de duas uma:
O bom ameríndio aqui
já se cansou
Ou talvez nunca
se acostumou
O que que se pode
esperar da vida
quando os mais próximos
aplaudem chacinas?
Eu quero uma lista
desses cristãos
Eu quero uma lista
Eu quero uma lista
Haverá nomes
que eu já esperava
Surgirão outros
como apunhaladas
Os antigos
insignificantes
Agora são
comandados comandantes
Eleitores cativos
classe-alvo
quase policy-makers
dignatários, os mais altos
E os prognósticos
que nunca foram bons
estão agora
embrutecidos
E o futuro
é um longo passado
E o futuro
é uma câmara de gás
E agora, José, mestre carpina,
que diferença faria
se em vez de continuar
eu tomasse a melhor saída:
a de saltar, numa noite
fora da ponte e da vida?
O futuro passou
e por termos perdido
nem receberemos
o prêmio de consolação
É uma camada espessa
muito subestimada
mas que gera tristeza à qual
eu não estou imune
Isso me afeta
Me espantaria o contrário
Mas bem que eu queria
Bem que eu queria
Dizem que ser homem
é o que eu preciso
Dizem que ser homem
é um objetivo
Mas todos os homens
só estão preocupados em ser homens
Todos os homens
estão preocupados só em ser homens
Fomentar o lado direito
o punhal
a face mais dura
a indiferença mais crua
E os prognósticos
que nunca foram bons
estão agora
embrutecidos
E os prognósticos
que nunca foram bons
estão agora
embrutecidos
E o futuro
é um longo passado
E o futuro
é uma câmara de gás
E agora, José, mestre carpina,
que diferença faria
se em vez de continuar
eu tomasse a melhor saída:
a de saltar, numa noite
fora da ponte e da vida?
O futuro passou
e por termos perdido
nem receberemos
o prêmio de consolação
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3. |
Ave de rapina
03:29
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Me pedem um canto
Mas não vejo motivo pra cantar
Permaneço em silêncio
E espero os impropérios
que logo vêm: adivinhei
É normal, é natural
Contrariados, eles se vão
e se perguntam: "o que lhe custava cantar?"
O mesmo preço que lhes custa sonhar
e não sonharão sobre um canto meu
Se querem um canto
que cantem eles mesmos
Não recorram a mim
pra satisfazer os seus desejos
os seus desejos
os próprios desejos
Enquanto iam embora, eu entendia
aqueles olhares entrecruzados
que recriminavam a minha negligência
"maldita!"
era o que balbuciavam quase ruminantemente
O que não é de se estranhar
Como quando se perguntaram
o que me custava cantar
Quanto custava?!
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4. |
Ovelhas de rapina
03:03
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Essas ovelhas têm garra
Mas não é garra de raça
São sim garras de farsa
E elas estão com fome
E lutam pelo seu sangue
E lutam pra conseguir sangue
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5. |
Zita
02:51
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MÚSICA:
Mario Lucio (Simentera)
ADAPTAÇÃO PARA O PORTUGUÊS DO BRASIL:
Sónia Maria Fonseca Pereira Oliveira Gomes, Rafael Mantovani
Quem me pôs no mundo chama Zita
E a outra metade chama Domingues
Quem deu a novidade foi a dona Aninha
que anunciou do alto: "é um rapazinho"
Iguais aos do seu pai, olhos brasinos
Duas covas na bochecha: é malandrinho
Mandam buscar óleo de pulgueira
O vizinho dá seu galo de gogó pelado
Porque o menino é o sexto filho dos doze
Sem festa de sete, a bruxa come
Será que sem batizar, será que some?
O preto Nhonhô diz: "não se incomodem"
Um negro benzeu e um outro foi preso
No pronunciamento era Mandela
Começou a ver o mundo em preto e branco
E mesmo o arco-íris, um borrão
Mas com seus lápis de cor e alguns batons
o mundo deixou de estar na sua mão
Vêm a tia Bia com suas mandingas
e a parteira com umas folhas de chá,
dizendo: "acordem ele pra eu lhe dar banho
pra afastar os perigos do amanhã
Dizem que é bom pôr um talismã"
Então, Zita levanta e diz num afã:
"Ei! Deixem já o meu filho dormir"
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6. |
Marielle Franco
01:00
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7. |
Estalo
05:05
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De onde surgiram as faíscas
que se tornaram nossas iscas?
Que cegaram os olhos,
fomentaram os ódios
Se fomos ingênuos, ao menos reconhecemos
Pra não deixar estalar
Não deixar estalar
De onde surgiram as faíscas
que se tornaram nossas iscas?
Basta fechar os olhos,
abafar os ódios
Se formos ingênuos, não transpareceremos
Pra não deixar estalar
Não deixar estalar
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8. |
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Liberais de chicote na mão
Marxistas-antigreve
Todos em busca de uma publicação A1
Todos buscando o título de titular
Liberais de chicote na mão
Marxistas-antigreve
Foucaultianos ordeiros
Todos em busca de uma publicação A1
Todos exatamente com o mesmo objetivo
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9. |
Gosto
05:29
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Pra que lastimar mais
se já se expôs o desejo
Para que chorar, aliás
Se o motivo eu já não vejo
Só por mostrar-se capaz
de esconder o medo com os próprios dedos
Por que o silêncio da manhã acorda imagens tortas?
O que são mesmo essas coisas aqui expostas?
O que que eu fiz que eu nunca mais esquecerei?
Pra que continuar mais
se a petulância se mostrou demais?
Talvez por gosto
Reflexos toscos
preencham o passado
e chacoalhem este estado
Talvez por gosto
Talvez por gosto
Não fecho a cortina
Respiro nicotina
Esqueço as premissas estabelecidas
pra que a coisa toda enfim me deixe em paz
Talvez por gosto
Talvez só por gosto
Esqueço as premissas estabelecidas
pra que a coisa toda enfim me deixe em paz
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10. |
Segredo
06:35
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Se eu tenho fome
o sabor é um pouco diferente
Mas papilas não dão palpites
Ainda que o prazer seja convincente
Mas se juram que o cheiro é de carniça
É que os urubus querem apedrejar
Melhor que ir à missa ou degustar
é o gosto de subjugar
No reino dos que se alimentam
de putrefação, a sua coação cai
É que já não me deixo levar
Suas desilusões já não contam mais
Esse é um segredo meu comigo mesmo
Um segredo meu comigo mesmo
Se a sua fome quer morte
A minha quer palco
Mas o meu ato não é de vingança
É só o primeiro ato
De alguém que se faz dia a dia,
que não transforma a vida em espantalho
pra maldizer quem apenas é
pra maldizer quem simplesmente não pode não ser
O meu prazer é rima rica
Os que a compreendem não são todos
Não me importo se não sabem ler
Não atiro diamantes aos porcos
Esse é um segredo meu comigo mesmo
Um segredo meu comigo mesmo
Enquanto as tochas não aparecem
E não são cassetetes que dão boas-vindas
Eu não escuto a sua gritaria
Não me importa quem quer acabar com a vida
O suporte dos que se dizem fortes
é cortejar o gosto de morte
Agora são coisas que eu expus aqui
e você vai ignorar como conseguir
Dizem que pode ser o sol que embaça
a razão da gente ordeira e respeitosa
Ainda se eu tenha uma vida virtuosa
A medida da existência
serão intimidades tratadas
convenientemente como indecências
então eu desisto.
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11. |
Vexame
02:58
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Hoje eu vi diante de mim
um espantalho com galhos furtados
do local mais amaldiçoado
dos meus segredos mais petrificados
Se exibia como um chamariz
para que todos pudessem rir
Aglomerada multidão
para a apresentação de um infeliz
A isso contesto hesitante
por um instante diante de tal exibição
Mas me volto para o meu recanto
que de encanto só há solidão
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12. |
Perder-se
03:16
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Tem gente capaz de perder-se em um único trilho
E a sua sentença é ser capaz de dividir em múltiplos
um único caminho
Tem gente capaz de esquecer que um dia foi amado
E o seu castigo é juntar todos aqueles trilhos
em um único sonho
obstruído
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De Soslaio São Paulo, Brazil
Alternative rock band from São Paulo which has recorded some albums since 2002 and played now and then.
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